22.12.08

Individualismo?

Ouço não poucas vezes de alguns críticos de nossa sociedade que o mundo anda muito individualista.
Talvez não seja bem assim... o que vejo é uma uniformização de atos. Todos acabam agindo da mesma maneira. Ninguém pratica os hábitos narcisistas e comportamentos pouco coletivos de hoje em dia por escolha da própria consciência, é uma regra universal ao ponto de tornar ridículo que não comunga dos mesmos atos. Olho para o mundo vejo todos marchando em fila indiana, com os mesmos juízos, estereótipos e tudo mais.
Onde está o tal indivíduo? Dissolvido na geléia geral.
Não é a liberdade individual que cria problemas para o mundo, se não que o oposto. A liberdade que deveria ser exercida poderia sim construir um mundo melhor.
As pessoas vivem como cordeiros, guiadas magistralmente em um grande rebanho. Todos dóceis, sem pretensões e achando que estão sento autênticas.
Não devemos cair em tal armadilha. Falar contra a autonomia é defender tal falsidade.

21.12.08

Autonomia e adesão

Leio para ver o mundo com outras lentes. Cada pensador me oferece uma lente para ver o mundo, mas acho que cada indivíduo deveria fabricar a sua. Não para rejeitar simplesmente ou para aderir por formalidade, mas para exercer o vigor que cada ser tem.
O desafio é precisamente não pensar com a cabeça alheia, se não com a própria. Não quero dizer que não é possível que pessoas pensem identicamente ou que não se possa haver adesão a algo ou alguém, mas tal ato deve ser feito através do exercício tortuoso da autonomia.
Sobre tal aspecto, Sartre nos faz uma bela explanação, a meu ver, quando trata da questão do conceito de “Grupo” em “Crítica da razão dialética”. Ou seja, como é possível que um sujeito apoderado de sua individualidade pode em alguns (ou muitos) momentos fazer adesão à algo?
Faço referência à questão simplesmente pelo incômodo que tenho quando vejo um suposto individualista rejeitar a idéia de adesão a algo, por entender que assim se perde a individualidade. E o faço também para os coletivistas que supõem que aderir é perder identidade, singularidade, independência.
A adesão que pressupõe a entrega servil e fanática, muitas vezes, é o caminho para a escravidão. Por tanto, não leio para aderir, se não que para superar, ir além (Hegel nos apresenta o conceito de Subsumir – e devo esclarecer que não sou hegeliano). Quando falo em superar sei que estou sendo muito, muito pretensioso, mas também acho que todos deveriam ser.

Obs 1: O que falei cai como uma luva para a política, aliás vamos ler a obra de Sartre acima citada.

Obs 2: Cito Hegel sem ser hegeliano para provar que as lentes apresentadas na história do pensamento são válidas e não se pode simplesmente rejeitar ou aderir a um sistema de pensamento de qualquer pensador. Por mais que gostemos de um pensador, ele não é deus e seus livros não são textos sagrados e por mais que rejeitemos um pensador, ele não é o diabo e seus livros são proibidos ( Olha “O nome da rosa” aí gente...)

20.12.08

Ainda sobre o futuro

Reportei-me nos termos referidos ao futuro por entender nele um conjunto de possibilidades.
Sim, o futuro é um conjunto de possibilidades sempre em aberto, pronto para ser projetado pelo ser existente (com redundância mesmo).
Assim não falo dele como uma causa necessária e independente do ser (das pessoas) que o constrói.
Repito: O futuro está em nosso horizonte projetivo e por isso é um conjunto de possibilidades e não necessidade.
É por isso que o passado, enquanto narrativa, pode ser refeito, re-significado.
Os fatos existiram, mas as conclusões que tiro dele pode ser diverso, e é por isso que digo que o discurso histórico é uma interpretação. É o ser humano quem cria, acredita, nega suas narrativas. O quebra cabeça é montado de acordo com o sentido que quero dar ao fato para o futuro.

18.12.08

O futuro

Sim, o futuro é o senhor de tudo. É a ele que prestamos conta agora, é por ele que falamos, agimos, escrevemos... Todas as ações miram-se lá, buscam lá o seu vigor, medo, angústia e tudo mais que é transcendente.
Esse ainda-não-ser é tão soberano que até quando falo do passado, é por ele que dou sentido ao ocorrido, é com vista nele que criamos as narrativas. O ponto de partida é sempre onde quero chegar, e não onde estou. Mesmo que não tenha consciência disso, é por tal horizonte que firmo o pé no chão. Vou lá, defino o que quero e volto ao presente para dar sentido a tudo que existe, e diga-se de passagem não tem sentido se não na consciência.
O que se vive, é bom, é ruim? Depende do que você quer para o futuro, das realizações. Ora, o valor, meus caros, só existe na nossa cabeça. A mesma água que é fundamental para a vida, pode matar.
Ora, o que há com o mundo hoje? Se o futuro é tão importante, que valor damos a ele?

15.12.08

Pausadamente

Mundo.
Eu.
Fundo.
Mundo meu.

Ser.
Seu.
Juntos.
Mundo teu.

Sendo.
Tudo.
Nada.
Escolha eu.

Também.
Aquém.
Além.
Seja teu.

Olhando.
Fazendo.
Transformando.
Mundo breu.

13.12.08

Viva a fluidez

A nossa tradição criou o homem zumbi, o homem infeliz, depressivo. É tão óbvio quanto não visto.
O que esperar de um modo de vida que valoriza o sofrimento? Ou não é verdade que se valoriza as pessoas que sofrem em nome de algo, que trabalham demasiadamente, que trocam a sua vida para se dedicarem a outras, que reprimem os desejos em nome da razão?
Ou seja, são valorizadas as pessoas que exercem o que não são. Não é à toa que temos uma sociedade extremamente depressiva, obcecada para realizar os estereótipos difundidos, e toda depressão é canalizada para o consumo.
Se as pessoas fossem autenticas não precisariam resolver suas carências depressivas no consumo.
Nietzsche nos diz “torna-te o que és.”
Exercer tal liberdade não é praticar perversidade com os outro, se não que a repressão ideológica referida é que promove o destoante.
O sistema é tão cruel que criou uma teia de controle alheio, onde cada indivíduo não exerce sua liberdade e vigia os outros. E tudo mais é punição.
Bom, o que vejo é um mundo doente. E isso não é pessimismo, é apenas um diagnóstico.

7.12.08

O que é história?

Mas afinal o que é história?
Faço essa pergunta para tentar mostrar que não é tão óbvio como se parece.
Há sempre uma confusão em tentar dar aos saberes humanos a pretensa exatidão das chamadas ciências exatas. É irônico, pois nem elas o são.
A tentativa de fazer da história um saber absoluto, no qual, segundo essa linha, a tornaria espaço para uma verdade absoluta e assim as outras versões seriam errôneas, acaba por lhe tirar seu caráter político. Ora, é opostamente o fato de a história, enquanto historiografia, ser um discurso sobre, que a faz um campo de disputa sempre, e nesse sentido a historiografia é sempre política.
Para resumir: A historiografia é um discurso e não uma verdade, e é por ser discurso que está em aberto, é uma guerra de versões, é uma disputa, é política. De outra maneira seria infértil.

Agora uma provocação: A verdade absoluta empobrece tudo que toca.