13.6.09

Lacuna


Se olharmos para a realidade como um eterno fluir, como nos propõe Heráclito, podemos refletir que a lacuna ou a interrupção é apenas uma mera aparência, uma conclusão de um olhar apressado. A inconstância ou a mudança permanente é um estado natural e faço questão de afirmar minha inclusão no turbilhão.
Me por em estado de silêncio não é sinônimo de não ter o que falar. Vejo o teor da fala proporcional ao ouvido de quem ouve e acostumados ao que é familiar não temos por hábito desnaturalizar aquilo que por vezes é óbvio.
Os ouvidos estão viciados e à vezes as falas se perdem como uma mensagem posta em uma garrafa e atirada ao mar.
Não falar é dizer demais ou pelo menos é a pista dada. Ora, tudo que está a nossa volta está disposto ao conhecimento e eu até respeito quando o individuo conscientemente decide não refletir, o problema é quando não o fazemos por pura incapacidade.

7.6.09

Pessimismo e otimismo

O pessimismo não está vinculado ao diagnóstico de uma dada situação, mas sim aos caminhos possíveis dados a ela.
Se por acaso chego a conclusões desagradáveis diante de uma realidade, ou episódio e assim o qualifico, não quer dizer que devo necessariamente ser tragado por ela, devo sim significá-lo. É na significação dada por nós aos eventos da vida que reside toda ocorrência de pessimismo ou otimismo.
Uma gama de otimistas quer simplesmente ignorar a ocorrência de situações ruins e se recusam a diagnosticar ao mesmo tempo em que sentem incomodo ao verem outras pessoas fazerem esse árduo serviço, e aí pecam por ignorarem uma realidade que pode ser o solo de uma circunstância qualitativamente superior e passam a viverem como bobo alegres, sempre em conformidade com as piores coisas.
Os pessimistas, não raras às vezes, têm a proeza de identificarem mais facilmente realidades inadequadas, mas pecam ao serem sucumbidos pelas circunstâncias e acabam caindo em um imobilismo e na prostração, passando a viverem como mortos-vivos, zumbis que esperam o fim, e incapazes de uma práxis acabam contribuindo para a reprodução das coisas que alimentam suas aflições.
Em ambos os casos, se observarmos com rigor, esses sentimentos não surgem meramente dos episódios, mas do sentido que damos a eles. Por isso que a questão do projeto é tão importante.
Esses são sentimentos invariavelmente construídos pelas pessoas. Um obstáculo pode levar ao pessimismo, mas pode ao mesmo tempo servir de impulso, assim um verdadeiro otimista jamais deveria ignorar as ocorrências negativas, pois elas são combustíveis para novas e melhores realidades.

O império da palavra

Vivemos sob o império da palavra. Se olharmos atentamente para a sociedade perceberemos que elas têm muito mais peso que os atos.
É impressionante como as pessoas são valorizadas pelo que dizem independentemente do que fazem.
Não ponho em dúvida a importância que a fala tem para o mundo, porém há uma evidente falta de equilíbrio típica de uma coletividade que se torna a cada dia presa a toda sorte de mecanismos extra mundo, digo metafísicos. A força reside no fazer e não no dizer, mas é o inverso que se faz relevante para todos.
O funesto de tal feita reside no fato de que ninguém repara o mundo, o que é feito ou não feito, mas o que se diz sobre. Os conceitos são construções humanas fundamentais, mas com pouca ou nenhuma serventia quando desvinculadas da prática.
Concluo que os discursos já não me satisfazem e se quer me dizer algo, não diga pratique. Prove-me com os atos e não com palavras para que eu possa vincular as palavras a eles, se não vazio e desonesto será.


P.S. Todos falam que educação é importante... E daí? O que há de prática?

29.5.09

A hora H

Que tudo tem solo firme na contradição não há dúvida, porém há momentos em que conciliações não são possíveis e em tais ocasiões meias palavras não bastam e atitudes precisam emergir do subsolo. Essas ocasiões atendem por antagonismo e se não ousamos sair do subterrâneo sucumbiremos no silêncio perpetuo dos túmulos e reinaria a paz, pois em tal instante não haveria mais vida, dando-se por encerrada a guerra.
Atentemos para o fato de que tudo pode conciliar-se enquanto a contradição é tolerável, mas toda forma tem seu fim na esteira do eterno fluir.
Heráclito me prova mais uma vez que está certo: “Pánta Rheî”, ou seja: “Tudo flui”

22.5.09

Meu desassossego

Sempre foi uma característica das mentes pensantes o desassossego. A tranqüilidade passou e passa ao largo dos que vêem grandes dilemas naquilo que aparentemente é simples. A força do hábito força ao simplismo, a generalizações rasas, a preconceitos que se sedimentam trazendo uma leveza diante dos enigmas aparentemente resolvidos e leva aos seres a usarem uma mesma lente para enxergar o mundo, a lente da naturalidade e por conseqüência a modéstia, tão elogiado pelos senhores aos seus escravos.
Pensar e assim problematizar traz efeito inquietante e é visto com maus olhos pelos contemporâneos, a não ser pelas mentes livres que se associam entre si.
Poderia listar uma lista interminável de desassossegados que deixaram belos legados para a posteridade. Não tenho nenhuma pretensão de viver em paz, pois ela não é possível, pois foi Heráclito quem me disse que a vida é guerra e a estabilidade não é possível. A não ser para os que usam a lente do simplismo.
Não nego e quem convive comigo sabe que sou e sempre serei um ser-sendo em estado permanente de desassossego.

14.5.09

Quetões

Gosto de tratar dos problemas dos indivíduos, mas não quer dizer que trato de problemas individuais.
São questões que todos os indivíduos vivem e, portanto, resolver problemas coletivos passa pelo entendimento dos problemas de caráter existencial.
É possível mudar o mundo sem o bom entendimento sobre quem são os seres que devem mudar? É possível liberdade sem entender a condição humana? É possível traçar planos coletivos sem buscar desvendar o desejo? Adianta mudar se não for em nome da felicidade? E o que é felicidade? Como os seres lidam com ela?
Não olhar para questões existenciais é não procurar entender a sua própria condição, é partir para o mundo sem entender quem nele está.

13.5.09

Inimigos nossos de cada dia...

De uma forma ou de outra, todo mundo acaba por eleger seus inimigos. Eles se caracterizam pela oposição ao que queremos, aos nossos desejos e projeções.
Eu escolhi meus inimigos e eles residem em todas as variações de pragmatismo. Todo sentimento que rejeita a reflexão e buscam apenas resultados imediatos, todo olhar que despreza o que é humano para assumir a morbidez de um robô, todo desdém à filosofia que se representa em um olhar que quer nos dizer: “Diletantes”.
A todo esse tipo de gente, olho como quem quer dizer: “Imbecis”.

11.5.09

O não dito.

Em uma sociedade caracterizada pelo espetáculo, ou seja, com o que é visto, exposto, e de forma cada vez mais escandalosa, eu me pergunto onde fica a percepção para o que não é tão evidente. Pois no não visto encontramos grandes pérolas, explicações.
Isso mostra o quanto estamos inativos, imóveis, embora façamos muito, mas fazer muito não significa fazer.
Se vemos muito e fazemos muito, não o realizamos pela nossa liberdade de criação e percepção e sim pelo bombardeio de uma forma específica de civilização na qual estamos metidos, estamos perdendo nossa capacidade de projeção e de entendimento e alguém sempre faz isso por nós.
Se não voltarmos os olhos para o que não é dito, não mostrado... estaremos perdidos. E nessa história não há herói, a não ser nós mesmos...

16.1.09

Justa medida

Quando falei outro dia que temos que nos acostumar com a imperfeição, é que muitas das confusões têm a ver com a quimérica chegada ao que é perfeito. Nunca o teremos, embora possamos buscá-lo.
Assumir tal perspectiva, qual seja, da conformidade ao imperfeito, não é para defender que a partir de agora temos que buscá-la, mas que nunca deixaremos de tê-la.
Por isso que nunca rejeito integralmente ao passo que nunca aceito integralmente nada. Chega de idolatria e de demonização.
Acho que assim estou sendo mais dialético. Entendo o mundo como um conjunto de possibilidades e não de coisas acabadas.
Assim é meu juízo sobre as coisas e as pessoas.