27.2.07

Em-Tempo


Desfiles de escolas de samba como estamos vendo, com notas, critérios rígidos, tempo, celebridades, dinheiro, hierarquia...
Pode ser qualquer coisa, menos carnaval.
O carnaval é justamente a quebra de hierarquia, onde todos são iguais e qualquer um pode ser tudo sem chamar a atenção dos valores tradicionais. Poderia mesmo dizer que é uma festa dionisíaca.
Mas depois que criaram uma tal de liga, direito de imagem, sambódromo (lugar onde o samba corre), notas...e em decorrência comentários como: “essa é a melhor” ou “aquela foi a pior, por isso foi rebaixada”.
Ou seja, isso virou competição, virou ritual apolíneo. Virou também espetáculo onde uns são ativos e outros espectadores (passivos). Pois é, no carnaval todos são ativos e nunca espectadores, todos são protagonistas...
Carnaval não é razão, tudo menos isso... O povo não é bobo, e mesmo de forma inconsciente vem revitalizando os blocos.
Aos burocratas da razão, a burocracia. Ao carnaval, a festa...

Outros Pensadores


"Nada que é humano me causa entranheza"

Karl Marx

21.2.07

Em-Tempo


Sobre a violência:
Estamos todos no mesmo barco e deveríamos achar isso.

Contribuiriam mais para amenizar o problema da violência, se os meios de comunicação colocassem o debate em seu devido eixo ao invés de fazerem uso dos incidentes bárbaros para difundirem suas idéias pré-definidas.

Quando duas pessoas passam a viverem em sociedade, passam a estabelecerem regras de convivência para tornarem a vida possível. O que fazem as partes cumprirem o acordo é o fato de acreditarem coletivamente no mesmo projeto e se sentirem pertencentes e responsáveis por ele.

Quando uma das partes perde esse sentido, as regras passam também a não terem nenhum valor. Conseqüência: Quem não acredita mais na sociedade passa a descumprir as regras, pois sabemos que cumpri-las exige acreditar em algo maior que a tentadora vontade de não cumpri-la.

Quando pego um dinheiro emprestado com um amigo, por exemplo, posso ficar tentado a não pagar, pois é mais vantajoso para mim. Porém pago o dinheiro pelo fato de continuar a desfrutar da confiança que me faz pegar dinheiro emprestado novamente se precisar de novo. Se não pago, posso levar um não. Ou seja, troco a vantagem concreta por um valor que compartilho com meu amigo, um bem maior.

A grande lição é: Para cumprir uma norma, preciso compartilhar valores, preciso ter o sentimento de pertencer a uma sociedade e ter consciência do outro, preciso ter um sentido de futuro em minha mente.

Porém, estamos no auge do individualismo, não estamos interessados pelo mundo (mundo, leia-se também as pessoas), a não ser no discurso. Pagamos propina para não pagarmos multa, jogamos lixo no chão, se precisar posso até matar para livrar a nossa cara, posso também usar a força e espancar alguém por causa de uma pequena divergência.

Quanto ao pertencimento, não precisamos ir muito longe. Para alguns, a sociedade na forma do Estado só surge para exigir dever (incluí-se punir) e nunca para dividir direitos. Como diz uma música dos Engenheiros do Havaí: “Todos iguais, mais uns mais iguais que outros.”

Existe uma parcela da sociedade que vive sob outros valores, mais brutais. Conhecem só a lei do mais forte. O que queremos de retribuição? Quem diz que não tem nada a ver com isso, pratica o pior dos individualismos, como se o Ser fosse completo e descolado do mundo.

Uma prova de que há outros valores foi uma matéria publicada a dois anos por uma revista de circulação nacional em que uma pesquisadora paulista entrevistou jovens ligados ao crime. A opinião geral deles era que não havia importância no fato de poderem morrer amanhã, tinham o hoje e isso era suficiente. A regra era viver/consumir, ter respeito, liderança nem que seja só por hoje.
Exigir que pessoas assim respeitem a nossa vida, quando sequer respeitam as suas?

Então é preciso estabelecer o valor da vida, do respeito ao outro que começa no respeito a si próprio. O investimento em educação, esporte e arte é uma solução tão óbvia e falada quanto não praticada.

É preciso estimular a sensibilidade, ela torna o mundo melhor. Achar que endurecendo as penas vamos reduzir drasticamente a violência é uma ilusão típica das soluções instantâneas e mágicas que todo mundo faz de bote salva vidas.

Saramago disse que toda vez que está afogado de coisas ruins se agarra a um livro para não afundar na lama. Achar que uns podem fazer uso desse instrumento lúdico para viver e outros não, é achar também que há predestinação à erudição para uns e à badidagem para outros. Ora, se assim fosse não poderíamos culpar os bandidos, pois o critério para a responsabilidade é a liberdade de escolha. Que tal darmos o direito de escolha para poder cobrar com maior veemência pelo dever da responsabilidade?

7.2.07

Outros Pensadores


Eu não sou eu
Nem sou o outro
Sou qualquer coisa de intermédio
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim
Para o outro.
Mário de Sá-Carneiro - Poeta português