19.1.07

Fragmentos


A única coisa imutável no tempo é o passado. Mas sua imutabilidade é fundamental para o futuro. Aquilo que ainda não é, necessita daquilo que é, pois algo só pode vir a ser diante de um ser petrificado. O projeto depende de algo a superar, se não, não é projeto.
Assim, toda mudança só é, em relação a alguma coisa que permanece e tudo aquilo que permanece é chamado de passado.
Já o futuro não surge a partir de um nada, toda existência estabelece um estado relacional, de modo que só há mudança com estabilidade.
Pode parecer contraditório, mas uma das regras da dialética que diz que tudo flui, ou seja, tudo muda, carrega consigo a idéia de estabilidade: há algo de permanente, e é a mudança.
O tempo é uma prova da dialética diante de nossos olhos.
Baseado em Sartre, podemos estabelecer uma “fórmula” para entender o tempo: O ser é o que já não é, e é o que ainda não é.
Vou escrever mais sobre tal assunto, por hora vamos refletir sobre esta “fórmula”.

Dicas


Livro: Ensaio sobre a cegueira escrito por José Saramago.

Não há coisa mais nobre que a possibilidade de ver. Ariano Suassuna nos disse que há uma diferença entre olhar e enxergar.
O português Saramago (ganhador do Nobel de literatura) faz de uma ficção, onde um belo dia se estabelece uma “epidemia de cegueira”, um primor de possibilidades de reflexão sobre o que é enxergar. Por vezes é preciso se distanciar de algo para poder conhecê-lo.
Na obra, perder a visão faz as personagens enxergarem o que estava invisível diante de seus olhos sãos, e o leitor é levado a passar pelo mesmo processo sem ficar cego fisicamente, fazendo-nos abrir os olhos.
Para mim, é uma crítica à alienação contemporânea que faz o homem perder sua humanidade.

18.1.07

Fragmentos


Intervindo no mundo estamos intervindo em nós mesmos. Intervindo em nós mesmos estamos a intervir no mundo.
Somos o produto do todo e o todo também é nosso produto. O ser e o objeto formam um uno. Eles se entrelaçam em uma relação metabólica onde um influencia e determina o outro. O “Ser-puro”, ou melhor, o puro Si-mesmo só existe nas possibilidades da linguagem e não no real.

16.1.07

Dicas


Livro: A cerimônia do adeus, escrito por Simone de Beauvoir.

O referido livro é um relato emocionante dos últimos anos de vida de Jean-Paul Sartre, dividido em capítulos que vai de 1970 a 1980, ano de sua morte. A brochura ainda contém uma excelente entrevista feita por ela a Sartre em agosto/setembro de 1974.
Os dois foram companheiros desde a juventude, onde revolucionaram o conceito de amor conjugal. Eram dois dos principais nomes do existencialismo (corrente filosófica de grande vulto no século XX), além de serem por toda vida militantes de suas idéias e terem se aproximado muito do marxismo.
É realmente uma obra permeada de humanismo capaz de emocionar. No último parágrafo Castor (apelido de Simone muito usado por Sartre) escreve: “Sua morte nos separa. Minha morte não nos reunirá. Assim é: já é belo que nossas vidas tenham podido harmonizar-se por tanto tempo”.

Outros Pensadores


"Somos o que fazemos do que fazem de nós"
Jean-Paul Sartre

Fragmentos


Toda definição é uma tentativa de por fim a algo, é impor limite a uma coisa, é contê-la dentro de uma margem demarcada pela definição que é o próprio conceito.
Quando digo que algo ou alguém é, estou petrificando-o, pondo fim às possibilidades, aprisionando o mesmo ao seu passado, ao seu já-foi e digo que assim é.
Mas isso não passa de uma tentativa, pois o mundo não tem limite. O objeto a ser conceituado nunca deixa se aprionar.
Há sempre as possibilidades, pois tudo está em seu vir-a-ser. Tudo está em direção a seu fim, e enquanto não chega a seu fim particular, não há como estritamente conceitua-lo de forma definitiva.
O mundo não está paradão, está em abertura e se queremos compreendê-lo precisamos nos colocar também em abertura.

14.1.07

Outros Pensadores:


"O que se leva dessa vida é a vida que se leva"
Barão de Itararé

Poema


Liberdade

Todo corpo é gaiola
Caminhar, respirar
Até ir embora.

Todo corpo é gaiola
Espelho é quem diz
Que presença me isola

Todo corpo é gaiola
Cada um diferente
Mas sempre livre por fora.
Severino

Fragmentos

O mundo tole o novo punindo o ridículo.
Os fracos têm medo de parecerem ridículos, preferem a segurança medíocre da normalidade. Temem arriscar, criar e assim contribuem para a mesmice.
Pois tudo que é novo causa espanto, parece loucura, coisa sem fundamento.
Por sua vez, o mundo introjetou a idéia de rejeição à diferença, às novas idéias e é capaz de punir severamente quem insiste em provar que as coisas vão além do que temos por verdadeiro. O mundo é um porvir. Não está, senão que está sendo.
Precisamos viver em constante abertura para o mundo. Os idiotas que morram dentro de suas prisões.