29.5.09

A hora H

Que tudo tem solo firme na contradição não há dúvida, porém há momentos em que conciliações não são possíveis e em tais ocasiões meias palavras não bastam e atitudes precisam emergir do subsolo. Essas ocasiões atendem por antagonismo e se não ousamos sair do subterrâneo sucumbiremos no silêncio perpetuo dos túmulos e reinaria a paz, pois em tal instante não haveria mais vida, dando-se por encerrada a guerra.
Atentemos para o fato de que tudo pode conciliar-se enquanto a contradição é tolerável, mas toda forma tem seu fim na esteira do eterno fluir.
Heráclito me prova mais uma vez que está certo: “Pánta Rheî”, ou seja: “Tudo flui”

22.5.09

Meu desassossego

Sempre foi uma característica das mentes pensantes o desassossego. A tranqüilidade passou e passa ao largo dos que vêem grandes dilemas naquilo que aparentemente é simples. A força do hábito força ao simplismo, a generalizações rasas, a preconceitos que se sedimentam trazendo uma leveza diante dos enigmas aparentemente resolvidos e leva aos seres a usarem uma mesma lente para enxergar o mundo, a lente da naturalidade e por conseqüência a modéstia, tão elogiado pelos senhores aos seus escravos.
Pensar e assim problematizar traz efeito inquietante e é visto com maus olhos pelos contemporâneos, a não ser pelas mentes livres que se associam entre si.
Poderia listar uma lista interminável de desassossegados que deixaram belos legados para a posteridade. Não tenho nenhuma pretensão de viver em paz, pois ela não é possível, pois foi Heráclito quem me disse que a vida é guerra e a estabilidade não é possível. A não ser para os que usam a lente do simplismo.
Não nego e quem convive comigo sabe que sou e sempre serei um ser-sendo em estado permanente de desassossego.

14.5.09

Quetões

Gosto de tratar dos problemas dos indivíduos, mas não quer dizer que trato de problemas individuais.
São questões que todos os indivíduos vivem e, portanto, resolver problemas coletivos passa pelo entendimento dos problemas de caráter existencial.
É possível mudar o mundo sem o bom entendimento sobre quem são os seres que devem mudar? É possível liberdade sem entender a condição humana? É possível traçar planos coletivos sem buscar desvendar o desejo? Adianta mudar se não for em nome da felicidade? E o que é felicidade? Como os seres lidam com ela?
Não olhar para questões existenciais é não procurar entender a sua própria condição, é partir para o mundo sem entender quem nele está.

13.5.09

Inimigos nossos de cada dia...

De uma forma ou de outra, todo mundo acaba por eleger seus inimigos. Eles se caracterizam pela oposição ao que queremos, aos nossos desejos e projeções.
Eu escolhi meus inimigos e eles residem em todas as variações de pragmatismo. Todo sentimento que rejeita a reflexão e buscam apenas resultados imediatos, todo olhar que despreza o que é humano para assumir a morbidez de um robô, todo desdém à filosofia que se representa em um olhar que quer nos dizer: “Diletantes”.
A todo esse tipo de gente, olho como quem quer dizer: “Imbecis”.

11.5.09

O não dito.

Em uma sociedade caracterizada pelo espetáculo, ou seja, com o que é visto, exposto, e de forma cada vez mais escandalosa, eu me pergunto onde fica a percepção para o que não é tão evidente. Pois no não visto encontramos grandes pérolas, explicações.
Isso mostra o quanto estamos inativos, imóveis, embora façamos muito, mas fazer muito não significa fazer.
Se vemos muito e fazemos muito, não o realizamos pela nossa liberdade de criação e percepção e sim pelo bombardeio de uma forma específica de civilização na qual estamos metidos, estamos perdendo nossa capacidade de projeção e de entendimento e alguém sempre faz isso por nós.
Se não voltarmos os olhos para o que não é dito, não mostrado... estaremos perdidos. E nessa história não há herói, a não ser nós mesmos...