28.11.08

Todos os tempos

Todos os tempos
habitam no meu
De todos os nomes
meu e teu

Todos os tempos
estão presentes
Nítidos mesmo
que ausentes

Todos os tempos
me pertencem
Unidos nos fios
que se tecem

Todos os tempos
estão abertos
Livres, vívidos
Mesmo que desertos.

O lugar da perfeição.

Eu acredito em um mundo perfeito, e ele existe nas nossas cabeças.
Parece-me que há cerca de seis bilhões de mundos perfeitos atualmente.Como ele não deve ser importo, e mesmo que fosse não se realizaria, bem vindos à imperfeição!

27.11.08

Especilaista ou Generalista?

Um colega meu, professor de história, me disse ao comentar um livro que estava a ler que a doença atual do mundo é a “gestologia”, essa tara por gestão, como se todos os problemas do mundo fossem resolvidos com uma palavra mágica chamada gestão.

Meus caros, vos digo: Concordo integralmente e reforço com meus parcos argumentos:
Só uma sociedade demasiadamente estéril de pensamento, pode se encastelar na técnica. Tudo se resume aos gráficos, números e os problemas da vida deixam de ter o calor das pessoas e sentimentos a elas envolvidas, para assumir a frieza do gestor.
Há por assim dizer, uma ditadura conceitual que diz que, ou a opinião à cerca de uma questão é de um gestor, técnico do ramo ou não serve.
O chamado “generalista” não tem mais espaço. O que é o intelectual se não o “generalista”? só ele pode falar livremente, e essa prática abre caminho para o novo, para a reflexão, para novos e diferentes olhares sobre os nossos problemas.
O que está acontecendo diante de nossos olhos é consolidação de um modo de vida que condiciona até os que se opõem a ela. Como defensor e aspirante a “generalista” cito um exemplo desse condicionamento: A política virou serva da economia. Não se discute política, se discute as possibilidades que a economia permite para a política.
Para me contrapor, afirmo: Política está mais próxima de uma obra de arte abstrata do que de um gráfico. E garanto que os chatos de galocha vão estranhar a palavra “abstrata”, é que quem não gosta de pensar tem ojeriza à abstração.

21.11.08

O espelho

Uma cara no espelho de um banheiro úmido e quente de um pé sujo qualquer. Um pé sujo que de tão qualquer, desaparece da memória. O rosto talvez pareça molhado de cansaço, solto pelo ar do pensamento distante, denunciado pelo olhar-além: o que está a frente do olho pouco importa. Nessa hora o abstrato vira concreto, a fluidez vira fardo e por vezes, inversamente, o sólido se dissolve. O nove vira zero.
As circunstâncias estocam os olhos avermelhados e o espelho pela primeira vez tem plasticidade para além do objeto domesticado que comumente é. É uma moldura pronta para ser preenchida, mesmo que o ser próprio sempre permaneça de frente para o mesmo. O olhar diz quem é o espelho, não é ele que diz a cor do olho, é olho que diz de si mesmo. O mesmo olho que absorve do mundo os instrumentos do juízo. Quem não é juiz?
Indiscernível em determinada altura de acontecimento saber se a gordura é espelho ou rosto, quiçá uma camada intermediária de matéria desenhada cuidadosamente pelos acontecimentos anteriores, pois os dois têm uma historicidade, uma textura temporal, já que o tempo também tem espessura, uma rugosidade proporcional ao desfrute. Pobre de quem não tem espessura rugosa. Geralmente exigimos menos desgaste do espelho afim de se tornar mais palatável ao consumo, parecer novo no mercado: sinais dos tempos. Pura contradição querer menos corrosão para ser passível de ser corroído, e ao sê-lo exigir não ser.
Não seria estranho avaliar um tempo por suas contradições, e o dilema agora está no espelho, essa coisa que aprisiona e se funde no rosto para impedir que os olhos alcancem o além e transcenda no outro a sua própria diferença. Quem mais existe a não ser quem se prende diante de tal objeto? O olhar capta quem olha e torna o outro um si próprio, tudo mais é irreconhecível, assustador pois desconhecido. Narciso é o nome único, nome de quem olha que se torna de todos.
Nesse momento é possível concluir, e possibilidade não é necessidade, que captar um tempo pode ser captar um segundo, uma fração mínima, tão pequena que é incapaz de conter o volume de sentimento, de idéias, aquilo que é capitado no instante, e é aí que transborda: o recipiente não contém o conteúdo. Momento mágico, só as mentes livres transbordam. Quem está dentro de um recipiente não consegue entender a possibilidade de outra dimensão, o espelho pode refletir não só um rosto, mais a depender do movimento intencional de quem vê, pode refletir outra coisa mesmo que seja nada: quem vê é o olho do juiz.
E por falar em tempo, já passou um segundo desde o encontro despropositado entre o rosto e o espelho, é preciso abrir a porta, respirar outros ares e fingir a mais pura sobriedade. Todo mundo saberia que é mentira, desde que um único ser daquela multidão fora do banheiro enxergasse aquele rosto fingidor. Tudo bem, a sobriedade é um porre.
Mais um segundo se passou, é preciso sair, tem um outro rosto querendo aquele espelho.

16.11.08

Poesia

Quero

Quero me acabar em poesia,
vos digo.
Quero vê-la em tudo,
Nos recantos escondidos
dos olhares cotidianos,
Quero ouvi-la nas vozes
e nos ruídos mundanos,
Ser perseguido passo a passo
para abraçá-la com os olhos,
Senti-la em sua temperatura.
Quero aprisionar-me a ela
tal qual um pássaro livre,
Quero degustá-la sem sobriedade
para nunca me fartar,
Quero a claridade de seu som
e deleitar-me na sua subversão,
Banhar-me na sua impureza,
Encontrar-me com a sua inquietação,
Inebriar-me na sua perfeita imperfeição.
Apenas quero,
Como quem quer eterno querer
para saber que sempre busco,
Quero a poesia, o mundo,
eterna redundância.

Severino

15.11.08

Comentário seco para um mundo seco.

Que espécie de mundo estamos criando ao só valorizarmos a eficiência, o sucesso, a vitória, o resultado? hoje não se tolera o erro, o pensamento livre. Não se faz possível tolerar nada, nada que não seja o resultado positivo. Nunca se mede a intencionalidade, já que só é válido o resultado prático das ações.
Estamos construindo uma sociedade insuportavelmente pragmática e qualquer iniciativa que não se enquadre a tal feito é visto pejorativamente como mero diletantismo. Estou a assistir um surto de loucura coletiva, tudo em nome da racionalidade técnica de nossos dias. Em um mundo assim não há espaço para o lúdico, para os sonhos...
Prefiro um modo de vida estético, lúdico, mesmo que os pragmáticos e inférteis me chamem de louco...
Como nos diz a canção de Ney Matogrosso "Mas louco é quem me diz, e não é feliz..."